Os espaços vazios dos ILS nas escolas regulares - a estranheza da ocupação dos lugares


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A política de inclusão que tem sido imposta no Brasil trouxe a tona diversas feridas que antes estavam cobertas pelos finos tecidos. Uma dessas feridas é a despreparação da comunidade escolar, de forma geral, para receber pessoas diferentes dentro desses espaços.
Falo aqui especificamente das pessoas surdas, que sempre estiveram na sociedade, vivendo sob preconceitos e mitos. Mitos do desconhecimento que levaram estas pessoas, com particularidades lingüísticas e culturais, a serem taxadas de nervosas, inquietas, conversadeiras, e paradoxalmente mudas.
Junto com a imposição da inclusão de surdos nas escolas regulares veio também a figura de um profissional, mais desconhecido (e mitificado) que os próprios surdos: os intérpretes de língua de sinais (ILS). Que para uns era aquela pessoa que “ajudava” os surdos a se comunicarem e para outros (como ouço de alguns professores) era/é “a menina que salva minha aula”. Nem nome estes profissionais tinham, quanto mais espaço.
A inclusão de surdos requer preparação lingüística, requer informação, requer conhecimento de que esta pessoa tem apenas uma língua e cultura diferentes da das pessoas ouvintes. Requer acessibilidade lingüística e para isso requer o profissional ILS.
A ocupação dos espaços vazios, que de acordo com Bauman são os espaços a que não se atribui significado, pelos intérpretes de Libras tem causado tensões e conflitos nos ambientes escolares. O não conhecimento dos papeis deste profissional nem pelo professor, nem pelo aluno e nem pelo próprio intérprete causam desordem nos papeis dos profissionais que atuam nas escolas regulares.
É possível se afirmar que o espaço, antes vazio e portanto sem significado, era existente  já que em Salvador as escolas de surdos vão no máximo até o nível fundamental 2 e muitos surdos continuam estudando após saírem destas escolas . Porém sem uma legislação específica, estes eram relegados ao ensino em língua estrangeira (a língua natural dos surdos e na grande maioria, primeira língua, é a Libras, portanto a língua portuguesa é a sua segunda língua), sem acompanhamento de ILS para interpretarem as aulas e tornarem acessíveis os conhecimentos.
O espaço vazio clamava por ocupação. Os ILS chegaram, não ainda de uma forma satisfatória (nem em quantidade e nem em qualidade), mas a ocupação destes espaços antes vazios tem causado estranheza aos que antes estavam acostumados a não vê-lo preenchido.
Neste conflito de espaços, hoje os ILS já inseridos em algumas escolas regulares brigam por contratação, capacitação e sensibilização da comunidade escolar.


Referencia: 

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Liquida. 1ª Edição. Tradutor: DENTZIEN, Plinio. Rio de Janeiro: ZAHAR, 2001.

One Response to “Os espaços vazios dos ILS nas escolas regulares - a estranheza da ocupação dos lugares”

  1. Bonilla says:

    Boa reflexão Thalita,
    muitos desafios postos às escolas e aos professores. Reconhecer e significar processos é fundamental para a educação dos jovens, todos eles...
    bj

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